quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Capítulo 3 - Cuidado de mãe



Você tem certeza que quer ir? A Letícia vai entender... - dizia minha mãe, sentada em minha cama, enquanto eu me arrumava.
Mamãe era incrivelmente linda; por dentro e por fora. Tinha excelentes hábitos alimentares, praticava caminhadas e era uma pessoa de fé, muita fé. Uma vaidade normal, como ela dizia.
Não, mãe, eu vou, sim. Até porque, tenho companhia.
Quem? Você não queria nem que eu fosse com você e agora tem companhia? - senti uma pontinha de ciúmes por parte da mamãe.
Um rapaz. - respondi despretensiosamente.
Que rapaz? Eu conheço?
Não.
E ele é de onde?
Da praia.
Filha, odeio quando você fica em poucas palavras, você sabe...
Ma-mãe, conheci um rapaz hoje quando fui caminhar – me sentei ao seu lado na cama, para calçar as sandálias.
E você já o chama pra sair assim? Tempos modernos!
Pois é, mãe – segurei nas mãos dela, e continuei – Resolvi unir o útil ao agradável. Ele ia me convidar pra sair, então o chamei pra me acompanhar no jantar.
É pra fazer ciúmes?
Claro que não – respondi, me levantando rapidamente – Mãe! Eu superei, mas parece que você ainda não acredita nisso! Não quero ser fraca em não ir ou ir “superprotegida com a mamãe”. Entendeu? – e me virei pra o espelho. Não queria ver a cara dela com essa minha resposta.
Ok, filha. Entendi.
De repente, me bateu um peso na consciência. Tentei explicá-la, olhando pelo espelho: - Me desculpe, mãe. Sei de suas intenções, mas, esse foi o ponto de equilíbrio que eu precisava.
Comecei a separar chaves, celular, porta-documento. Ela se levantou e veio ao meu encontro. Pegou em minhas mãos e disse: Tudo bem. Vá! E se for chegar tarde, me avise.
Não vou demorar.
Peguei minha clutch cor de bronze, que tinha estampa de jornal, dei um abraço apertado em mamãe e saí do quarto.  Ela veio atrás. Quando abri a porta do apartamento, ela disse:
Você está linda! – Ela disse, mandando um beijo no ar.
Te amo! – respondi, devolvendo o beijo.
Enquanto esperava o elevador, me olhava no espelho. Não me importei muito com aquele vestido de seda rosa queimado, que foi amor à primeira vista quando comprei. Tentava me concentrar na expressão que faria quando estivesse por lá, mas fui interrompida.

Capítulo 2 - Doce água




- Obrigada! – eu disse ao garçom que acabara de me servir um côco geladinho.
- O meu  docinho e o seu? – disse o moreno puxando assunto.

Provei  e fiz que ‘sim’ com a cabeça.

- Então, Amanda, você mora aqui perto?
- Não. Costumo estacionar ali e caminhar por aqui. O mar me faz bem.
- Nem posso ser cavalheiro e te oferecer uma carona. Você frustrou meus planos – disse ele, fingindo decepção.
- Desculpa! – respondi, rindo.
- Mas o côco é por minha conta, ok?!
- Ok! Faça a sua boa ação do dia – respondi, olhando o relógio.
- Rodrigo, preciso ir agora.
- Já?
- Já! Tenho um jantar às 18:30hs e preciso me arrumar.
- É impressão minha ou você não está muito afim de ir?
- Nossa?! Está tão na cara assim?
- Sou observador!
- Percebi!
- Mas o que tem de tão ruim assim? A comida não vai ser de graça? - tentando fazer humor pra disfarçar a curiosidade.
- Antes fosse! – suspirei.
- O negócio realmente é sério! Se não quiser falar a respeito...
- Não, não, tudo bem! Hoje é um jantar de noivado.
- Não me diga que você é a noiva?!
- Não! Minha cunhada. Na verdade, ex-cunhada.
- Hm!
- Eu ia ser testemunha do seu casamento, juntamente com o irmão dela, meu ex-namorado.
- Vocês terminaram há muito tempo?
- Meses.
- E você ainda gosta dele?
- Não. Ele me trocou por outra, tipo, na frente de todo mundo. Eu fiquei por ‘coitadinha’ na visão dos nossos amigos em comum. Estou tentando evitar eles, mas dessa vez não vai ter jeito.
- Por isso, você veio caminhar?
- Sim. Gosto de ver o mar antes de tomar decisões ou passar situações difíceis.
- Entendo. Por isso, comecei a surfar. O mar me liberta.
- Verdade.
- Bem, não quero te atrasar. Gostaria de te convidar pra sair comigo hoje, mas já que não dá pra você... Quem sabe outro dia.
- Ok. Irei sim.

Trocamos os números de telefone. Despedimos-nos e parti sozinha em direção ao meu carro. Ele ficou me olhando de lá da barraca.
Saí com o carro e quando parei no sinal, resolvi ligar pra ele.

- Amanda?
- Oi, Rodrigo!
O sinal abriu e coloquei no viva-voz.
- É... Então, o que você vai fazer hoje à noite?
- Não tenho nenhum compromisso. Acho que vou pegar um cinema.
- Gostaria de jantar comigo?
- Oi? Você desistiu de ir?
- Não, mas gostaria que você fosse comigo. Pode ser?
- Já é!

Passei meu endereço e combinamos um horário para ele me pegar na porta do meu prédio.

- Você pode deixar o carro no meu prédio e ir comigo.
- Vamos no meu carro!
- Você entra com o jantar e eu com a gasolina! – ele disse, rindo – Até já!
- Até.

Depois que desliguei, que eu me dei conta do que tinha feito. Agora era ver no que ia dar.

Capítulo 1 - Reencontro





Precisava respirar. Nada como uma caminhada à beira-mar. Envolvida em meus pensamentos só consegui me libertar da tormenta interior quando vi aquele ser esplêndido saindo da água. Segurando a prancha e balançando os cabelos encaracolados, o moreno me viu. Enquanto andava, ele me seguia com o olhar. Sorri mas não parei de andar. Ele sorriu de volta. "Que sorriso lindo" - murmurei. Com mais uns passos, olhei para trás e lá estava ele, se alongando, com a prancha fincada na areia.

Minha caminhada foi bem produtiva. Já me sentia em paz. Apesar da preguiça de fazer o percurso de volta andando, retornei. Eram quase 5 horas da tarde quando resolvi parar e me concentrar no movimento das águas. Ao olhar para a direita, me alongando, o vi novamente, olhando o mar. Fingi que não tinha visto e continuei meu exercício. Quando terminei, ouvi aquela voz forte e macia ao mesmo tempo: "Muito bem, fez corretamente". Sorri pra ele, acanhada, e nada respondi. 

Ele começou a caminhar em minha direção e se apresentou: "Oi, meu nome é Rodrigo". Pra não deixar ele 'no vácuo', eu disse: "Prazer, sou Amanda". 
- Desculpa me intrometer no seu alongamento. Sou personal trainner e não resisto à um exercício. Sou bastante observador.
- Obrigada pelo comentário. Posso ficar tranquila que não vou estar entrevada mais tarde.
Ele riu.

Eu tive um relacionamento difícil e procurei fugir ao máximo nos últimos 6 meses e procurei fugir ao máximo de possíveis envolvimentos, mas com ele era diferente. Algo me impedia de dar as desculpas esfarrapadas que eu já era acostumada.

"Vou tomar uma água de côco. Gostaria que você fosse comigo" - ele convidou. Respondi: "Claro!". E caminhamos à barraca mais próxima.

Volteeeei!